A escassez de componentes fez a indústria de Bicicletas do PIM (Polo Industrial de Manaus) derrapar, em outubro. A produção tombou 24,39% ante setembro (83.766) e não passou de 63.336 unidades. A comparação com o dado do mesmo mês do ano passado (98.330), por outro lado, indicou queda ainda mais acentuada (-35,59%). Os dados foram divulgados durante a coletiva de imprensa da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares), realizada nesta quarta (17).
O crescimento ainda se manteve na casa dos dois dígitos, no acumulado do ano. De janeiro a outubro de 2021, foram fabricadas 649.872 Bicicletas, 15,59% a mais que em idêntico intervalo de 2020 (562.224 unidades). Diante dos novos números, a entidade revisou para baixo sua projeção para 2021 – que já havia sido corrigida em agosto, mas em sentido contrário. A estimativa, agora, é encerrar o presente exercício com 820 mil Bicicletas manufaturadas no Polo Industrial de Manaus – e não mais as 850 mil calculadas antes. Ainda assim, a meta está 23,3% acima do dado consolidado no ano passado.
“Ajustamos a previsão para refletir o impacto [dos problemas] da cadeia de abastecimento, neste último trimestre. Mas o crescimento ainda será de dois dígitos. Ou seja, é um ano de recuperação e de aceleração forte”, amenizou o vice-presidente do segmento de Bicicletas da Abraciclo, Cyro gazola, ao tratar dos números das linhas de produção do PIM, divulgados durante a coletiva de imprensa realizada pela entidade.
Sem deixar de frisar os desafios impostos pelos gargalos no fornecimento de componentes, o dirigente considerou que os resultados de outubro – assim como os de setembro – foram “satisfatórios”, mas ressalvou que o foco da análise ainda é o acumulado do ano. “O ponto positivo é que temos um crescimento de mais de 15% na produção do Polo Industrial de Manaus, nos dez primeiros meses. Isso reflete a recuperação que nós iniciamos no segundo semestre do ano passado. E vemos que estamos no caminho de crescer em duplo dígito, mais uma vez” amenizou.
Com 394.190 unidades fabricadas e sendo responsável por 60,70% do volume total, a MTB (Moutain Bike) liderou o ranking das categorias de Bicicletas mais produzidas pelo PIM, de janeiro a outubro, ao avançar 32% sobre o dado de 2020 (298.560). Com fatia de 27,2%, a categoria Urbana/Lazer (176.754) foi na direção contrária (-9,5%). Na sequência está a Infanto-Juvenil (12.613 e 8,7% de participação), com decréscimo de 0,5% na mesma comparação.
Os melhores resultados, entretanto, vieram dos modelos com produção ainda minoritária. A maior elevação proporcional (+129,3%) foi registrada pela categoria Elétrica (8.696), que ainda responde por 1,3% do total. Com volume de fabricação pouco superior (2,1%), a Estrada somou 13.648 unidades manufaturadas nos dez meses iniciais de 2021, montante 78,2% superior ao de 2020 (7.659)
“O importante é que crescemos observando as tendências do mercado. Temos a continuidade da expansão do segmento de mountain Bikes. Os brasileiros em geral adotaram a mountain Bike com uma grande pluralidade de uso, em todas a superfícies. Vemos também o crescimento da categoria de Bikes elétricas, que ainda é pequeno, mas que tem potencial de penetração em todo o Brasil, olhando o futuro”, pontuou o vice-presidente do segmento de Bicicletas da Abraciclo.
Indagado sobre o balanço que faz sobre o segmento, Cyro gazola ponderou que, diante do cenário que se descortinou após as duas ondas de pandemia, a sociedade brasileira passou a adotar “de forma muito relevante” a Bicicleta como parceira de deslocamentos, esporte, lazer e de interação com a família, além de contar com protagonismo crescente na logística urbana dos serviços delivery. O ponto negativo segue sendo os impactos resilientes da crise da covid-19 no abastecimento de partes e peças para os veículos de duas rodas
“Vemos como positivo os crescimentos nas categorias de mountain Bike e elétrica, além da adoção da Bicicleta para entregas, o que também tem nos ajudado. Do lado dos desafios, ainda há os problemas na cadeia de abastecimento global. Não é só no Brasil que está crescendo a demanda por Bicicletas. Estamos vendo que ainda vai haver uma continuidade por alguns meses, mas vemos que teremos um ano de 2021 com muito êxito”, afiançou.
Em entrevista anterior, o executivo já havia frisado que o foco dos problemas ainda está na dificuldade que a oferta encontra em acompanhar a demanda reprimida, dada a escassez de insumos. Os componentes mais escassos seriam os sistemas de freios, transmissões, suspensões e selins, cujo fornecimento ainda é majoritariamente do mercado estrangeiro, notadamente de países asiáticos. Gazzola também mencionou que a Abraciclo e suas associadas buscam alternativas para depender menos de fornecedores externos, em um trabalho que “exige investimento e não acontece de uma hora para outra”, dada a necessidade de manter padrões de qualidade e tecnologia.
Em entrevistas anteriores à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Wilson Périco, disse que o resultado do polo de duas rodas, assim como o de outros segmentos do PIM será de crescimento em 2020, apesar de todas as dificuldades. O dirigente observou também que a demanda reprimida por produtos industrializados, em âmbito global, sinaliza simultaneamente uma boa, mas também exige mais das empresas – inclusive trabalhar com pedidos antecipados.
“O mundo ficou parado durante três meses, no ano passado, daí as dificuldades que apareceram. Houve uma retomada simultânea global e os fabricantes de componentes não têm capacidade de atender a produção de bens finais no curto prazo. Daí o atraso no fornecimento de componentes, fazendo com que as empresas tenham de aumentar seus estoques. Tem indústria que está colocando seus pedidos para 2024, para se ter uma ideia. Mas, certamente o resultado deste ano será melhor do que o de 2020”, concluiu.
FONTE: Jornal do Commércio – Manaus – AM
DATA: 19/11/2021