A frota de Motocicletas, cicloMotores e Motonetas na Baixada Santista teve um crescimento de 46,25% nos últimos dez anos, segundo dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran).
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Esse aumento no número de veículos desses tipos na região acompanha o movimento registrado nesse mesmo período no Estado (variação de 47,11%) e no País (63,17%).
Alguns fatores podem contribuir para o incremento desse tipo de transporte nas ruas do País, pois esses modelos são mais econômicos do que os carros e consomem menos combustíveis.
O encarecimento das tarifas do transporte coletivo e falta de eficiência desse serviço também contribuem para que muitos cidadãos optem em comprar Motos para se deslocar com maior agilidade para o trabalho.
Esse é o caso da servidora pública Suzane Graciolli de Oliveira. Moradora do Jardim Casqueiro, em Cubatão, ela comprou uma Moto no ano passado, quando ainda estava trabalhando de casa.
“Ficar na dependência do transporte público é difícil. E usar o carro não tem condições nos dias atuais, porque estaria gastando cerca de R$ 500,00 por mês só de combustível”.
Ela explicou que o financiamento do novo veículo mais o gasto com combustível não chega a R$ 400,00. Outra vantagem é a maior agilidade para fazer o trajeto de casa até o serviço, que dura dez minutos.
Enquanto Suzane está no trabalho, a Moto é utilizada pelo pai Roberto, que passou fazer a entrega de refeições e lanches para algumas escolas do Município dessa forma e optou em deixar o carro na garagem por causa da alta do preço da gasolina.
A professora Tamires Rosa Vaz de Souza Tenório e o noivo Leonardo vivem em Santos. Ambos utilizavam aplicativos de transporte para se deslocar até os respectivos trabalhos e gastavam mensalmente, em média, R$ 650,00.
De casa para a escola, a corrida custava em torno de R$ 7,00, mas, por causa da tarifa dinâmica, esse valor chegava a R$ 20,00 em alguns dias.
Por esse motivo, eles decidiram comprar um veículo de duas rodas, em outubro do ano passado, por uma questão de economia. “A parcela mensal da Moto é de uns R$ 300,00. Com menos de R$ 100,00, conseguimos rodar pelo mês inteiro”, citou.
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Vendas em alta
O sócio-proprietário da Sanmell Motos, Carlos Eduardo Bernauer, afirmou que a demanda por Motocicletas cresceu muito nos últimos meses e a loja consegue vender cerca de 1.200 veículos por mês.
“Temos percebido muitos clientes que viviam como Motoristas de aplicativos e decidiram comprar Motos para prestar serviços às empresas, que estão abandonando os carros por conta dos custos de manutenção e do combustível”, afirmou.
Além da facilidade de comprar esse tipo de veículo sem entrada e parcelar o valor em até 48 prestações, Bernauer apontou que alguns modelos conseguem rodar por 40 quilômetros com um litro de gasolina, o que representa uma importante economia.
Consequências
O coordenador de monitoramento e avaliação do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP) Brasil, Leonardo Veiga, afirmou que o aumento do uso de Motos está relacionado à ausência de um transporte público de qualidade em pequenas e médias cidades.
O especialista também chamou a atenção para o fato que 35% das vítimas fatais de sinistros de trânsito no Brasil são Motociclistas, segundo dados do Observatório Nacional de Segurança Viária, e é um índice que vem crescendo com o passar dos anos.
Ele admite que a relação custo-benefício pesa na decisão dos cidadãos. Por esse motivo, quando há um embate entre transporte individual e transporte público, não faz sentido ficar apontando o dedo para quem usa carro ou Moto. “É preciso tirar o peso das decisões individuais e pensar mais nas decisões de políticas públicas.
No final das contas, o transporte público será mais utilizado se tiver qualidade, segurança e frequência aos usuários”, justificou. Na visão dele, o poder público também precisa atuar para potencializar a mobilidade ativa, ou seja, toda a forma de transporte que não é Motorizada, como andar a pé ou de Bicicleta.
Associação prevê crescimento
A Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, CicloMotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) tem a expectativa que 1,29 milhão de Motos sejam produzidas neste ano no País, o que representa um volume 7,9% superior ao registrado em 2021 (1,195 milhão).
“Estamos retornando aos patamares de 2015 e esperamos que o ano seja mais estável que 2021 para darmos continuidade ao novo ciclo de expansão. A tendência é que a produção de Motocicletas siga em alta”, afirmou o diretor executivo da instituição, Paulo Takeuchi.
No varejo, a entidade projeta para 2022 que sejam emplacados 1,230 milhão de veículos, o que corresponde a uma alta de 6,4% em comparação ao ano anterior.
“Todas as associadas se esforçam para atender ao consumidor que optou pela Motocicleta como alternativa de deslocamento rápido e seguro, quer um veículo com menor custo de manutenção e que também pode ser utilizado como instrumento de trabalho”, frisou.
Produção
As fábricas desse tipo de veículo instaladas no Polo Industrial de Manaus fecharam o primeiro bimestre deste ano com a produção de 190,5 mil unidades – número 70,7% superior ao verificado no mesmo período de 2021.
Uma das explicações para essa diferença é que a capital do Amazonas foi o epicentro da segunda onda da covid-19 nas primeiras semanas do ano passado.
Somente em fevereiro, 107 mil Motocicletas saíram das linhas de montagem, o melhor resultado para o mês desde 2015.
Impacto no meio ambiente
Se por um lado as Motos representam uma importante alternativa econômica para as pessoas que precisam se deslocar, o crescimento do número desses veículos representa um importante desafio para o meio ambiente.
O presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy, afirmou que os catalisadores desses veículos são dimensionados para uma rodagem de 18 mil quilômetros por ano, seguindo o modelo europeu.
“Porém, no Brasil as Motos rodam muito mais, porque o clima é melhor e também pela grande quantidade de trabalhos de Motofrete. Após seis meses de uso, as Motocicletas já estão lançando a carga total de poluição dos seus Motores na atmosfera sem o instrumento de controle, que é o catalisador”, destacou ele, que foi integrante do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
Na avaliação de Bocuhy, o Brasil perdeu a possibilidade de realizar a inspeção veicular, uma medida que existia no País e está prevista em lei, mas não foi implementada.
O material particulado, que é o resultado da queima incompleta do combustível, gera problemas respiratórios e cardiovasculares, ou seja, traz implicações diretas na saúde pública. Morrem no Brasil 51 mil pessoas anualmente por causa da poluição atmosférica, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)”, explicou.
Avanços
De acordo com o diretor executivo da Abraciclo, Paulo Takeuchi, o Brasil é um dos países com a legislação mais avançada do mundo no que se refere a emissões veiculares.
“O País também foi um dos pioneiros no desenvolvimento de tecnologias verdes para o segmento de duas rodas, reduzindo significativamente o impacto de seus produtos para o meio ambiente”, justificou.
Implantada há 17 anos, o Programa de Controle de Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares (Promot) proporcionou uma redução de até 85% na emissão de monóxido de carbono. Segundo a entidade, a fase Promot M5, que entrará em vigor a partir de 1º de janeiro do próximo ano, trará ainda mais ganhos ao meio ambiente.
FONTE: A Tribuna – SP
DATA: 21/03/2022