Para os debatedores do tema, é necessário modernizar tanto a aprendizagem quanto o modo de pensar em relação às soluções para o trânsito
Cristina Hoffmann, coordenadora de Qualificação do Fator Humano do DENATRAN, Marcelo Araújo, presidente da Comissão de Trânsito e Transportes da OAB do Paraná, Isabel Lins, da Secretaria de Transportes e Mobilidade Urbana, do Ministério das Cidades, Daniel Annenberg, presidente do DETRAN/SP, e o jornalista Roberto Agresti em debate
O tema educação no trânsito foi o foco principal do painel “Duas Rodas: Movimento que Cresce”, durante o IV Fórum Abraciclo – Mobilidade & Segurança em Duas Rodas, realizado recentemente, em São Paulo.
Mediado por Roberto Agresti, editor-chefe da revista Moto!, o debate contou com a presença de Daniel Annenberg, diretor presidente do DETRAN/SP, Isabel Lins, da Secretaria de Transportes e Mobilidade Urbana, do Ministério das Cidades, Marcelo Araújo, presidente da Comissão de Trânsito e Transportes da OAB/PR, e da coordenadora de Qualificação do Fator Humano, do DENATRAN, Maria Cristina Hoffmann.
A formação dos condutores é um dos principais problemas relacionados ao trânsito. Os especialistas acreditam que o processo de aprendizagem dos cidadãos ignora etapas. “No Brasil, o indivíduo parte do zero, como pedestre, e vai direto para as mil cilindradas no outro dia”, aponta Marcelo Araújo, que utiliza como exemplo a educação europeia, na qual o contato com o transporte se inicia desde cedo, primeiramente com a bicicleta, e evolui, até que a pessoa se torne, efetivamente, condutor de um veículo motorizado.
Para Daniel Annenberg, é preciso ressaltar a fiscalização nos processos de formação. “Hoje, é possível até mesmo comprar habilitações e não se aprende a dirigir. É necessário rever o processo, pois foi criado um ciclo vicioso”, destaca.
Sobre isso, Cristina Hoffmann aponta que já existem projetos do DENATRAN para alterar a realidade: “A partir deste ano será obrigatório o uso de simuladores de quatro rodas nos Centros de Formação de Condutores (CFCs) e, em breve, a tecnologia será aplicada também para motocicletas, pois o desenvolvimento está sendo finalizado pela Universidade Federal de Santa Catarina (SC), responsável pela criação dos aparelhos”. Estudos voltados para a reestruturação das aulas (teóricas e práticas) e modernização dos exames também estão em andamento nas Câmaras Temáticas do CONTRAN.
Outro fator importante é a falta de planejamento das vias. “A lei de Mobilidade Urbana começou a ser discutida na década de 1990 e o estímulo do uso do transporte coletivo, visando à diminuição da frota de veículos individuais, já estava em pauta. No entanto, em um momento de liberalização da importação de carros novos que acarretou uma excitação nos consumidores em adquirir um veículo importado, a realidade contrariou os planos. O consumo de automóveis aumentou e o sistema viário não estava preparado para esta demanda”, explica Marcelo.
“Atualmente, a questão não é se existe um maior número de veículos motorizados, mas como o seu uso será organizado”, explica Isabel Lins. Como não houve uma preparação para a concentração urbana, as grandes cidades precisam encontrar maneiras de contornar a situação. “Em cidades de menor porte, os gestores públicos precisam planejar a mobilidade para que seja funcional daqui a 15 ou 20 anos”, finaliza Cristina Hoffmann.