Durante a pandemia, muitas passaram a utilizar a motocicleta como instrumento de trabalho e fonte de renda
A motocicleta vem ganhando cada vez mais espaço entre as mulheres no cenário da mobilidade no Brasil. De acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), analisados pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares – Abraciclo, até novembro do ano passado havia 7.833.121 mulheres habilitadas para esse tipo de veículo no país. Esse número representa um salto de 95,7% na comparação com 2011, quando elas somavam 4.002.094 de carteiras de habilitação na categoria A.
De 2017 para cá, o aumento foi bastante expressivo: mais de 985 mil mulheres tiveram a licença para pilotar motocicletas. Mikhaele Macedo Vieira é um exemplo de quem não só tirou a carteira, mas também adotou esse veículo como instrumento de trabalho durante a pandemia. “Antes eu usava a motocicleta como meio de locomoção de casa para o trabalho. Com as medidas de isolamento social, o restaurante em que eu trabalhava fechou e tive que sair à procura de algo para garantir meu sustento”, conta.
Hoje ela trabalha com aplicativos de entrega e afirma que não trocará mais de profissão. “Nosso trabalho foi reconhecido e valorizado. Isso é gratificante. As pessoas agradecem por eu levar comida ou documentos até elas e permitir que fiquem seguras em suas casas”, enfatiza.
O presidente da Abraciclo, Marcos Fermanian, afirma que as empresas estão atentas ao número de mulheres que pilotam motocicletas, que aumenta a cada ano. “É um público exigente. Por isso, o mercado precisa estar atento às suas necessidades. Hoje vemos um número crescente de mulheres que têm nas motocicletas sua fonte de renda, especialmente no cenário atual, em que os serviços de delivery passaram a ter grande papel social o que, consequentemente, deu às motocicletas mais protagonismo nas ruas e avenidas”, diz.
Karla Carvalho confirma essa afirmação. Atuando na área desde 2015, ela criou, no ano passado, junto com três amigas, o grupo de WhatsApp Mulheres no Asfalto. O objetivo é ajudar aquelas que começaram a trabalhar nos serviços de entrega durante a pandemia. “Algumas perderam o emprego e compraram uma motocicleta para garantir o sustento da família”, diz. “Trocamos informações, principalmente sobre segurança e a importância do uso de equipamentos de proteção para garantir a integridade física”, explica.
Abrindo caminhos
Vanda Lopes da Silva e Camila Amaral Anjo Ferreira circulam pelas ruas e avenidas da capital paulista há mais tempo. Vanda trabalha com serviços de entrega desde 2002, quando conquistou uma vaga numa empresa formada somente por homens. “Éramos 43 pessoas e eu era a única mulher. No primeiro mês, bati a meta de entregas. Com isso, fui conquistando o respeito de todos e o meu espaço”, relembra Vanda.
Já Camila trabalha como motogirl há sete anos. Ela diz que, no início, queria apenas garantir uma renda extra. “Trabalhava para uma pizzaria e, quando fazia uma entrega, as pessoas ficavam impressionadas. Algumas até diziam que eu era muito corajosa”, conta. “Fui me apaixonando pela profissão. Trabalhar com motocicleta é muito agradável e não ficamos presos num lugar”, completa.
Habilitações crescem na faixa acima de 40 anos
Mikhaele e Camila integram a faixa das motociclistas entre 26 a 30 anos que, segundo dados do Denatran, registrou aumento de 50,4% no número de habilitações nos últimos nove anos. Já Karla e Vanda fazem parte do grupo com idades de 41 a 50 anos, que registrou crescimento de 169,4% nos últimos nove anos, passando de 574.233 em 2011, para 1.546.799 em novembro de 2020.
Ainda de acordo com levantamento do órgão de trânsito, o aumento mais expressivo de mulheres com carteira de habilitação na categoria A está na faixa acima de 60 anos. Em 2011, elas eram 23.646 e em novembro do ano passado passaram a 147.460, o que representa uma alta de 523,6%.
O segundo maior crescimento em termos percentuais foi na faixa etária entre 51 a 60 anos. Em 2011, havia 148.891 mulheres habilitadas a pilotar uma motocicleta neste grupo etário, e até novembro do 2020 elas somavam 609.791 habilitações, o que corresponde a uma elevação de 309,6%.
SOBRE A ABRACICLO E O SETOR DE DUAS RODAS
Com 45 anos de história e contando com 14 associadas, a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares – ABRACICLO representa, no País, os interesses dos fabricantes de veículos de duas rodas, além de investir em ações visando a paz no trânsito e a prática da pilotagem segura. A fabricação nacional de motocicletas, quase totalmente concentrada no Polo Industrial de Manaus (PIM), está entre as sete maiores do mundo. No segmento de bicicletas, com as principais fábricas também instaladas no PIM, o Brasil se encontra na quarta posição entre os principais produtores mundiais. No total, as fabricantes do Setor de Duas Rodas geram cerca de 12,8 mil empregos diretos em Manaus/AM.